Trás-os-montes:
 
Dou comigo como que suspenso, encontrei-me agarrado a esta gente simples que me desconstrói a complexidade. Que me resgatam enfim deste mundo de sombras. Mostram-me um mundo recto. Humano. Agreste. Duro. Belo. Maravilhosamente simples. Esplendidamente complexo. Honrado e fiel ao Homem.

Desconstrução de uma identidade:

Questões de uma pálida existência levam o inocente habitante da província a sonhar com a urbe. Sonham com o abandono do linóleo gasto e entranhado de sujo que cobre um chão ainda mais degradante. Abandonam a cadeira velha que range e faz conjunto com outras três e uma mesa que os avós compraram quando se casaram. Tudo dentro de casa passou de relíquia a traste. Tudo o que vão encontrar lá fora, no novo mundo, é moderno!
O horizonte será o betão. O tão deslumbrante betão, que engaveta as humildes almas uma a uma no seu sonho.
o sonho esse começou com as primeiras visitas da família emigrante. Foi aquele açúcar aos cubos, foram os rebuçados e os chocolates que abriram o voraz apetite por coisas novas. Que aumentava de verão para verão com a sucessão de carros novos, grandes, que na aldeia só os senhores doutores tinham. E as roupas esquisitas e todas as bugigangas que os primos tinham. E ainda por cima falavam de um outro modo e pareciam estar constantemente a troçar de tudo e de todos.
Era pois, urgente ser-se moderno!

Continua...