Canto de mim mesmo
"Celebro-me e canto-me,
E aquilo que assumo tu terás de assumir,
Pois cada átomo que me pertence, por assim dizer, pertence-te.
Ando sem destino e convido a minha alma,
Inclino-me e calmamente observo uma haste de erva estival.
A minha língua, cada átomo do meu sangue, concebidos deste solo, deste ar,
Aqui nascido de pais e de seus pais que também aqui nasceram,
Começo agora com trinta e sete anos, de perfeita saúde,
E espero não parar até à morte.
Deixo credos e escolas em suspenso,
Retiro-me um pouco, saciado deles, mas não os esqueço,
Dou abrigo ao bem e ao mal, permito-me falar correndo todos os riscos,
Natureza incontrolada com a sua energia original.
Casas e salas estão cheias de perfumes, as prateleiras estão repletas de perfumes,
Eu mesmo respiro a fragância e conheço-a e gosto dela,
A essência embrigar-me-ia também, mas não o vou permitir.
..."
Walt Whitman, in Folhas de Erva - Relógio D'Água