Deliberações ingénuas do umbigo. Pode um homem revoltar-se sem armas?

segunda-feira, julho 07, 2003

Canto de mim mesmo

"Celebro-me e canto-me,
E aquilo que assumo tu terás de assumir,
Pois cada átomo que me pertence, por assim dizer, pertence-te.

Ando sem destino e convido a minha alma,
Inclino-me e calmamente observo uma haste de erva estival.

A minha língua, cada átomo do meu sangue, concebidos deste solo, deste ar,
Aqui nascido de pais e de seus pais que também aqui nasceram,
Começo agora com trinta e sete anos, de perfeita saúde,
E espero não parar até à morte.

Deixo credos e escolas em suspenso,
Retiro-me um pouco, saciado deles, mas não os esqueço,
Dou abrigo ao bem e ao mal, permito-me falar correndo todos os riscos,
Natureza incontrolada com a sua energia original.

Casas e salas estão cheias de perfumes, as prateleiras estão repletas de perfumes,
Eu mesmo respiro a fragância e conheço-a e gosto dela,
A essência embrigar-me-ia também, mas não o vou permitir.

..."

Walt Whitman, in Folhas de Erva - Relógio D'Água

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